No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

terça-feira, 24 de junho de 2014

Evangelho puro e simples.

Muito se fala desse assunto nas rodas evangélicas. O desejo de muitos é viver um evangelho sem amarras, a margem das interpretações institucionais, mas na verdade -cansados do medo e culpa introjetados nas doutrinas e costumes religiosos- querem uma licença para a permissividade irracional... não desejam aplicarem-se a aprenderem que liberdade começa com uma consciência sadia e pressupõe responsabilidade e compromisso.

O desejo é sair da tutela de um sacerdote e colocarem-se sob outro que lhes permita ter liberdade sem consciência. Igualzinho a falácia do sonho da "igreja" voltar a ser como a "igreja primitiva". Esquecem-se que essa fase inicial da igreja foi feita da semeadura de corpos mutilados nas arenas e regado com a lágrimas e o sangue dos mártires da igreja.

E tudo isso porque a consciência desses lhes dava a convicção da mensagem da cruz, a ponto de valer a pena morrer por ela. E essa geração atual, está disposta a dar a vida pela mensagem? Pois conhecço muitos que dão a vida pela instituição, mas não pelo Evangelho.

Nessa carne (nem na outra!) conseguiremos reproduzir esse tal de "evangelho puro e simples" como um corpo doutrinário para usufruto coletivo, visto que as experiências que o compõe são pessoais e irreproduzíveis. E o que é esse "evangelho puro e simples"?
 
Para responder a essa pergunta, parto do mesmo principio do Evangelho sobre o que seja pecado... sabendo o que seja pecado para mim segundo minha consciência, que é submissa a minha contemporaneidade, também reconheço na mensagem do Evangelho princípios de vida eternos que aplico com a com a simplicidade que lhe é peculiar, sabendo que toda compreensão que tenho sobre isso serve para mim e meu momento histórico.

 
Portanto entendo que o “evangelho puro e simples” seja a aplicação desses princípios eternos à minha existência, aplicada ao meu contexto e histórico pessoais.

 
Isso não me torna um ser egoísta, mas desperta a minha consciência da mutualidade a que fomos por Cristo chamados a viver como Igreja. Percebo que a medida em que reparto minhas experiências nessa caminhada pessoal rumo a eternidade, ajudo outros a prosseguirem e terem suas próprias experiências. E igualmente tenho discernimentos a partir da vida de meu irmão, sendo incentivado a aprofundar-me no conhecimento e na experimentação da boa, perfeita e agradável vontade de Deus, transformando minha vida em um culto racional.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Dia Mau





Recebi a mensagem estampada na figura acima compartilhada no Facebook, por um estimado irmão de fé. Pus-me a refletir sobre essa mensagem e partilhei com ele meu pensamento sobre tal tipo de "determinação" em nome de Deus.

Lembrei do versículo abaixo e ponderei o que vem a seguir:

"No dia da prosperidade goza do bem, mas no dia da adversidade considera; porque também Deus fez a este em oposição àquele, para que o homem nada descubra do que há de vir depois dele." Eclesiastes 7:14

Não é sábio fugir do dia mau. Ele existe e faz parte da dinâmica de nossa caminhada por aqui. O dia mau também cumpre propósitos divinos.

Jesus nos ensina que frente à nossa fragilidade, é lícito pedirmos o livramento desse dia (Pai Nosso e Oração Sacerdotal). Mas também alerta que caminhar com Ele significa ser exposto ao dia mau, pela rejeição à Sua pessoa e pregação em nós (Sermão do Monte).

A bonança perene nesse corpo do pecado que vivemos não é vontade divina, pois nela não opera a perseverança e a esperança na adversidade. E nós mesmos, com grande frequência, somos quem precipitamos esses dias maus em nossas vidas pelas decisões que tomamos, mesmo nos parecendo serem decisões boas.

Por isso Jesus pede (e não ordena) ao Pai o livramento dos seus (e de si mesmo, antes da crucificação), reconhecendo nEle a nossa fragilidade. Daí Paulo afirmar que não nos sobrevêm tentação maior que a força que Senhor nos dá para suportá-la. Ninguém é tentado, senão nos dias maus...

Os discípulos de Jesus souberam bem disso em sua própria carne, pois encontraram seu fim no dia mau de suas vidas. Mas pereceram convictos da obra divina em sua existência!

No dia mau, nosso consolo é o abrigo e o favor que temos no Pai para suportá-los.

No dia mau, a certeza do Seu Amor firma-nos a enfrentar o futuro que desconhecemos.

No dia mau, a nossa coroa é sabermo-nos de antemão que somos mais que vencedores.

O que passar disso é simplesmente o desejo de fugir da realidade-verdade que a nós se impõe de maneira irrefutável, ainda que seja carregado do melhor sentimento de nossos corações... e esse coração, segundo a bíblia é enganoso e desesperadamente corrupto... nem mesmo nós o conhecemos... só o Pai conhece. Por isso pedimos: “Seja feita a Sua vontade, assim na terra como nos Céus...”, pois pela fé aceitamos que a vontade dEle é perfeita e boa para nós.


Abçs.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Juízo, Graça, Fé e Reconciliação

Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. Assim que daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne, e, ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo.
Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo.
E tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação;
Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação.
De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de Cristo, que vos reconcilieis com Deus.
Àquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus. 
 
2 Coríntios 5:14-21

O fato é que a humanidade já foi perdoada de seus pecados passados, presentes e futuros. Resta a nós, que recebemos essa mensagem e nela cremos, dela usufruímos e por ela somos gratos como portadores do Ministério da Reconciliação, divulgarmos a humanidade que Deus JÁ FEZ as pazes com o homem... que a este é possível livrar-se do jugo do pecado e ter comunhão com aquele que o criou... que é possível experimentar e viver a liberdade plena e a paz que ninguém pode entender... que Ele outorgou aos que assim creem o Seu Espírito, como garantia de que Ele cumprirá a tarefa que, por amor, a Sí mesmo propôs... que somos responsáveis pelas nossas escolhas sejam elas permanecer debaixo do medo imposto pela religiosidade ou da libertinagem hedonista e por elas responderemos somente à Ele que nos perdoou de ambas e de todo espectro que compõe a escala entre esses dois extremos... que se Este decidiu que terá junto de Sí o mais vil de todos os homens em detrimento daqueles que considerávamos o mais “santo” segundo a medida da religiosidade humana, não nos compete arbitrar a vontade d’Aquele que é Absoluto e prescruta os corações do TODOS os homens e não os julga segundo as falíveis percepções humanas... que o inimigo de nossas almas não tem mais autoridade para nos acusar pois o escrito de dívida que havia contra nós, repleta de ordenanças foi resgatada das mãos dele e rasgada pelo Cristo ressurreto, pois tudo foi consumado na cruz... que sabemos quando pecamos quando nossa consciência em Deus nos acusa, influenciado pelo Seu Espírito que em nós habita... que o que é pecado para um pode não ser para outro, portanto cada um anda segundo sua própria consciência em Deus, não sendo juiz de seu irmão, tampouco impondo sua percepção como a medida da espiritualidade ideal, pois somos seres humanos imperfeitos e nada em nós pode ser absoluto para si ou para o próximo... que quem recebe tal mensagem de e em amor não tem outra alternativa -por paradoxal que seja- a não ser voluntariamente submeter-se ao Senhorio de Seu Redentor e por/para Ele viver, transformando sua vida uma resposta prática de amor a Ele, à si mesmo e ao próximo que embora não perceba, está ansioso em ouvir essa mensagem e ver em nós o resultado prático e sobrenatural dela.


Infelizmente o nosso próximo tem ouvido dessa igreja que aí está a mensagem do juízo divino e não da reconciliação. E esse evangelho do juízo é a mensagem “de Jesus” compreendida pela “carne”, segundo o trecho de II Coríntios. Essa igreja não percebeu ainda que a Graça só se manifestou entre a humanidade pois o Cristo cumpriu na cruz as exigências do juízo divino. Quem vem imputando falsamente o juízo divino à humanidade como se tal não tivesse sido cumprido na cruz, está no mínimo desinformado ou sendo desonesto! Só há um que tem o interesse em transformar a vida do homem na terra em um inferno com acusações de juízo divino: o Diabo!

O homem está sim sob outro juízo que não é o divino: o juízo de suas próprias escolhas, o efeito de suas opções equivocadas. Prossegue vítima do pecado imanente com escolhas conduzidas por esta pulsão e do desconhecimento de que outra vida é possível, que o problema do pecado, da falta de comunhão com o Criador e da justiça divina foi resolvido na cruz de uma vez por todas. Que agora há Graça Divina para todos!

A graça não é uma linha de montagem onde todos se parecem... quem cria cópias e clones é a religião, Deus criou seres humanos diferentes entre si e diferentemente por Ele são tratados. Só o pecado e a Graça iguala a todos. E a Graça é superior ao pecado! Por isso Deus tem formas e não fôrmas. E a falta de fôrmas assusta o sistema religioso pois a partir daí, não há mais controle de nada... mas a verdadeira Igreja sabe que Ele está no controle e que à ela importa ser a presença de Jesus na terra, operando a obra d’Ele como se Ele aqui estivesse como estava na plenitude dos tempos.

Enquanto a igreja que aí está continua dando importância àquilo que claramente Ele não deu importância alguma ou que não é de sua conta, temos medo de viver a genuína experiência da fé, a reconciliação pela Graça. A seguir essa cartilha, a do conhecimento carnal de Cristo, não haverá graça para nós, muito menos anunciação da reconciliação para a humanidade!

O convite não é para sistematizar a experiência, é para viver a mensagem! Só assim o medo da libertinagem e da prisão religiosa que antagonizam hoje crentes e descrentes desvanecerá.
 

domingo, 18 de agosto de 2013

A Indústria da Conversão


O quadro acima , publicado na VEJA SP, despertou um questionamento que gostaria de ampliar nesse texto.
Deixando de lado o aspecto da conveniência de uma "conversão" neste momento de efervescência do mercado gospel, o grande engano nessa história toda é achar que um testemunho de mudança de vida fará com que Cristo seja glorificado e o Evangelho ser pregado. Pensa-se que o saturamento de histórias como essa levem muitos a “conversão”.
Mudanças radicais de vida acontecem com pessoas no catolicismo, no espiritismo, no candomblé, no budismo... enfim qualquer religião é capaz de mudar a vida de uma pessoa, isso não é exclusividade do cristianismo. Todas elas possuem um denominador comum: focam em aspectos morais e éticos semelhantes, que consensualmente sabe-se que quando não praticadas o resultado é o mal.
Na verdade o Mestre afirma que há um só sinal, que segundo Ele seria “O” sinal que convenceria o mundo de Sua passagem sobre a terra, de Sua obra na cruz e da Verdade que Ele encarnou. Esté é o amor não fingido entre aqueles que dizem ser seus discípulos - e não entre seus simpatizantes.
Tal como na época em que Ele encarnou-se, viveu entre nós e lançou as bases do Reino que havia chegado nEle à nós, houveram seus discípulos e seus inúmeros simpatizantes, que até chegavam a deixar suas casas e afazeres por dias em busca do favor de Jesus, do que Ele poderia fazer por eles.
Alguns inclusive atreveram-se a segui-lo como discípulos por algum tempo, mas desistiam logo frente ao breve primeiro embate que desnudava à eles (mas não ao Mestre) o real interesse por trás de tanto desprendimento.
Hoje encontramos hordas de simpatizantes envoltos nos esquemas do cristianismo em suas variadas vertentes, participando dos jogos de poder eclesiástico e do mercado religioso, chamando de "conversão" o convencimento da necessidade de uma mudança moral e consequentemente comportamental e de "vida cristã" o processo de adestramento e aculturamento no gueto religioso, que se inicia nesse equivoco de entendimento.
Seus testemunhos são de uma mudança que qualquer ser humano com algum nível razoável de percepção sobre si mesmo pode realizar de dentro para fora, movido pelo seu real desejo de mudança, até mesmo sem o “coaching” doutrinário e mentoria pastoral que esse processo em um ambiente religioso pressupõe. Aliás esse apoio ao convertido é um dos motivos pelos quais a Igreja existe.
Conversão é outra coisa. É revelação, “insignht” sobrenatural. É dar razão à Deus quanto à nossa pecaminosidade intrínseca e à falência pessoal quanto aos nossos esforços pessoais de reconciliação com Ele. É aceitar que Deus submeteu Jesus ao castigo que nos era merecido e que Ele fez por nós aquilo que não teríamos condição alguma de fazermos por nós mesmos.  É saber que Ele fez isso somente por amor a nós e não porque sejamos especiais ou tenhamos atraído a atenção dEle por qualquer tipo de subterfúgio pessoal.  É aceitar a Graça do Pai, onde os paradoxos do ser que enlouqueceriam a qualquer um são pacificados. É saber com convicção e paz no coração que o pecado se resolveu com o perdão e a culpa foi aplacada pela graça.

Isso pode acontecer a qualquer momento de nossas vidas, mesmo imerso nos devaneios morais  travestidos de espiritualidade do cristianismo, como foi meu caso.
Que a Graça do Evangelho, que perdoa os imperdoáveis, nos alcance!

terça-feira, 12 de março de 2013

Perseguição?


Estes dias estamos assistindo o desenrolar de fatos que indicam que de maneira geral ativistas de qualquer vertente e a igreja triunfalista não estão preparados para viver em um estado democrático. Só vejo idiotice e beligêrancia estúpida de ambos os lados. Nos últimos lances do embate sobre a presidência da Comissão dos Direitos Humanos e das Minorias entre os ativistas gays e o Pr. Marco Feliciano mostram que tanto um como outro não apresentam legitimidade para representar quem dizem defender.

Contrariamente a idéia predominante entre os religiosos cristãos, os ativistas gays não expressam a pluralidade de percepções do pensamento da população gay  e a maioria dos telepregadores como Marco Feliciano não são porta-vozes da Igreja de Cristo na terra. Esta não precisa de vozes, nem quem a porte, ela se manifesta na humanidade através dos sinais do reino dos Céus entre os homens que ela promove através de iniciativas individuais ou mais raramente, coletivas.

Quando eu era ´"evangéilico" eu cantava o hino "Vencendo vem Jesus" com aquela esperança inocentemente piegas de ver o Brasil todo "evangélico". Hoje, ao ver o exemplo desses senhores quando estão no exercício do poder temporal oro para que Deus nos livre disso. Precisei  romper com a estrutura "evangélica" para ver que Jesus vem vencendo com Sua igreja somente quando a sua lei maior - a do Amor- é praticado entre TODOS os homens, sem pudor algum. Praticando o Ágape desavergonhadamente!

O ataque feito ao Marco Feliciano em um culto é totalmente repudiável, por maior que seja a divergência entre os lados. Talvez a única lição desse episódio lamentável seja para que os “evangélicos” sintam na pele a mesma indignação daqueles a quem desrespeitam, quando levados por uma ousadia carnal, invadem terreiros e destroem os símbolos sagrados dos praticantes de uma religiosidade diferente da deles. Da mesma maneira que se sentem ultrajados, os adeptos de outras profissões de fé também se sentem assim. É algo inerente a qualquer ser humano.

No fim das contas, a “igreja evangélica triunfalista” está colhendo o resultado de anos de “evangelização” sem amor verdadeiro às almas e sem consciência do alcance da transformação do evangelho... das evangelizações por “ordenança” e não por genuinidade na motivação... do adestramento teológico e doutrinário e não da revelação sobrenatural da Verdade ... da adesão à uma fé e não conversão com arrependimento... sobre a de sua impetuosidade beligerante e desrespeitosa em vez da cordialidade e do andar em paz com todos... pois é, o “evangelismo de resultados” deu tão certo, que agora a fórmula é copiada pelos ativistas gays, ateus, agnósticos e tantos outros que “vão para o inferno”, pois estes “não tem mais jeito”, pois a "verdade" está com eles...

Agora estão utilizando o desculpa de ser “perseguição” ao Evangelho. Estratégia velha e manjada para jogar o ônus dos desatinos pessoais de seus líderes para as costas do povo da igreja, utilizada por líderes de igreja televisivos quando alguma coisa dá errado no planejamento deles. Parafraseando um jargão evangélico pentecostal “é mentira do diabooooo”...

Quem pratica o Evangelho padece de outro tipo de perseguição que não é pelas suas posições morais e éticas publicamente conhecidas ou por questões de consciência.

Se isso que alegam é "perseguição", não é o tipo de perseguição que a bíblia narra que os discípulos de Jesus sofreriam por Segui-lO. A perseguição a ponto de matar seria de outra vertente que não a imposição à sociedade de um ideário moral supostamente bíblico em sua composição e sim, que o amor impregnado na vida de cada discípulo andando em meio a humanidade, transbordasse de tal maneira que a simples presença destes seres, embaixadores do Reino Celestial em um mundo corrompido, provocará o profundo constrangimento aos homens de prosseguir pecando contra si e contra o próximo na busca de satisfação de seu ego. Então pela condição da insuportabilidade de conviver-se com gente tão cheia de Deus, constrangendo-os a não mais pecarem em sua presença, não haverá outra saída a não ser matá-los para pecarem “em paz”... sufocando o amor que embora os constranja em sua carnalidade também é o livramento do mal que são para si e do pecado que lhes aflige, ao perceberem em suas almas que lhes é necessário responder a tão grande Amor, sem que palavra alguma de condenação sejam-lhes dirigida. Afinal, não foi assim que Jesus agiu sempre, de acordo com os relatos dos Evangelhos? E Ele não é nosso modelo, nosso alvo?

Não me parece que a “igreja” tenha chegado a tal status de santidade e rendição ao amor divino. Vejo, com alegria, exemplos desse aprofundamento de Cristo na vida de uma porção de irmãos e irmãs na fé. Então que se encontrem os motivos dessa “perseguição”!

Entendo que essa "PERSEGUIÇÃO" é o resultado de anos de uma igreja submissa não à Deus, mas à um espírito beligerante e proselitista (comum no protestantismo em geral), de posições equivocadas e parciais supostamente bíblicas, de radicalismo biblicista calcado só na letra e no devaneio dos contadores/pregadores de fábulas de velhas caducas e não no Espírito que A inspirou... nada a ver com a temperança, com a moderação e a justificativa sobrenaturalmente convincente da razão de nossa esperança... hoje aqueles que passaram por esta lambança religiosa toda e ainda preservam um mínimo de consciência sobre o Evangelho percebem que deveriam ter se colocado de maneira mais firme contra o processo de sincretismo religioso das primeiras igrejas neopentecostais e aos ventos das doutrinas heréticas importadas especialmente dos EUA, lá nos anos 1990... agora precisam fazer de tudo para "descolar" sua imagem daqueles que há muito vem pervertendo o Evangelho, substituindo-o pela feitiçaria gospel e um projeto de poder talibanesco.

A despeito das forças veladas por trás da mídia, as últimas semanas tem apresentado uma versão bizarra da realidade (condenados assumindo mandatos, investigado dirigindo casa legislativa, líder de igreja renunciando ao cargo secularmente vitalício, mandatário morto em caixão de vidro para adoração pública, diminuições de preço para "inglês ver", truques contábeis para arrumar as contas do país...) , assim como nos desenhos dos "Super-Amigos", que haviam duas realidades: uma em que os heróis eram gente do bem e outra onde eles eram do "mau"... bizarros... hoje me sinto em um mundo bizarro de desenho animado... surreal como um quadro de Salvador Dali... aqueles que avocam serem os "homens de Deus" se comportando como "Tiões-Gavião" e os "inimigos da igreja" se comportando com muita freqüencia como o bom samaritano... uma história que nem João Grilo acreditaria se fosse contada , nem Chicó saberia dizer se foi assim mesmo... para entender o que digo, clique aqui, aqui e aqui .

Se há de se marcar a diferença entre “aquele que serve e  aquele que não serve à Deus”, conforme os evangélicos gostam tanto de demonstrar em suas performances de teatralidade espiritual, então é chegada a hora dos verdadeiros adoradores O adorarem em espírito e verdade... adorando-O, amando verdadeiramente ao próximo como a si mesmo... tolerando as fraquezas do outro, pois todos somos fracos em algum ponto... ajudando e sendo ajudado a crescer na caminhada com o Mestre...   estamos todos carregando os desdobramento de nossas escolhas equivocadas, de nossa parcialidade e ambiguidade... por isso repartir nossas cargas uns com os outros as deixa mais fácil de carregar... e é só em um ambiente de Graça divina que essas questões se equacionam e o ser encontra a pacificação de suas contradições.

É momento de gerar ambientes de Graça, da mesma Graça que fomos alvo um dia em Deus, para acolhimento de todos... isso é ser Igreja... de proporcionar oportunidades de mudança de vida pelo arrependimento frente a constante internalização pessoal da Palavra e do Amor divinos... de  ajudar a conduzir os irmãos do conhecimento meramente intelectual de Jesus para uma experiência de vida com Ele...e se tivermos que ser beligerantes, que o sejamos em um só aspecto: na anunciação de que em Cristo, Deus restaurou consigo o homem!

Não falo nada de novo... só estou colocando 2ª Coríntios 5 em minhas palavras.

Minha esperança e oração é que a igreja opte por ser percebida na sociedade discretamente... como o sal dá sabor à comida mas não é possível dissociá-lo um do outro.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Natal de Deus mais real que eu.


"Depois disso, meu natal já era!"

Só afirma uma coisa desse quem jamais soube o que foi de fato a experiência "natalina" de José, Maria e o recém-nascido.

Nossos natais são muito idealizados. Muito projetados. Muito utópicos e muito montados. Presépio e presepada.

O Natal de Deus aconteceu na realidade mais concreta e visceral.

Sim, o Natal do Deus que muita gente duvida que seja real, foi mais real do que eu! Realidade chocante!

"A vida como ela é!" - diria Nelson Rodrigues. Foi o Natal de Deus.

Menina-moça que aparece afirmando que o Espírito Santo colocou a sementinha dentro dela... Não é uma posição tão confortável e meiga, não é mesmo?

Homem-moço que não sabe se dá um tapa na noiva-esposa cínica, ou se a interna urgentemente no sanatório mais próximo. A terceira opção seria assumir a "cornice". Mas o homem, por um sonho que teve, escolheu de bom grado ser "corneado" por Deus.

Confortável essa posição de José, não é?

Tiveram que andar milhas e milhas a fim de obedecer um decreto tirano que os obrigava a ir à cidade natal para um recenseamento. E Maria grávida de vários meses.

Que adorável deve ter sido essa caminhada ou trajeto no lombo de jegue, não é?

Chegando na cidade de José - Belém da judéia, Cidade de Davi - tinham agora que enfrentar burocracia, fila e muita espera! Era muita gente pra ser atendida! Stress e incômodo puro!

Natal com stress? E combina isso? - pergunta o meu distraído leitor.

Mas eu não já disse que o Natal de Deus é mais real que eu?

Pois bem... Burocracia, fila, espera... E Maria já não podendo mais esperar. Bolsa rompendo. Daria a luz ali, nesse caldeirão de ansiedade, estranheza e mal-estar.

Só um probleminha a mais: a cidade estava abarrotada de gente. Cidadãos que vieram de todas as partes do país. Não havia vaga em nenhuma hospedaria.

"E Deus não abrirá uma porta onde não há porta?" - pergunta o que tem féde mais.

Nenhuma porta aberta. Todas fechadas.

Até então eles tinham dado o jeito. Um homem e uma mulher grávida podem aguentar muito desconforto. Sereno, vento, chuva, frio... Mas agora com um neném? Merece um quarto quentinho, acolhedor, limpo.. Um ninho.

Não havia quarto. Mas havia a estrebaria.

Que natal reluzente hein? É o natal dos sonhos de qualquer um, não é! Ora eu pensei que era. Não é por isso que reproduzimos esta cena horrível com nossos presépios tão lindinhos?

Acabou o natal deles? Que nada. Só estava começando.

De repente amigos pastores do campo, desconhecidos, chegam. A melhor Graça de Deus é sempre um algo inesperado. Graça que se roteiriza e se cronometra não tem tanta graça assim. E quando menos esperavam, solitários no lugar de alimentação de animais... surpresa!

Aparecem também uns estranhos orientais. Viram uma estrela no céu que os guiara até ali.

E vai havendo companhia, felicitações, louvor, amizade e vínculo da perfeição. O pós-parto vai ficando iluminado de humanidade simples, solidária, fraterna e real.

O Natal de Deus continha distância de casa e da família...
O Natal de Deus incluía a humilhação da submissão a ordem de um governador tirano e opressor...
O Natal de Deus tinha pouca luz, comida, conforto e amigos...
O Natal de Deus tinha rejeição e falta de piedade dos gerentes e donos das hospedarias...
O Natal de Deus não tinha privilégio especial àquele que Ele havia declarado como Filho Seu...
O Natal de Deus, para Maria e José, tinha o céu meio silencioso e aparentemente vazio... Sem portas abertas. Só portão de curral.
O Natal de Deus tinha tudo o que muita gente, experimentando, diria: "Não há chance de haver natal esse ano! Acabou o meu natal!"

Mas no Natal de Deus havia presença de Deus Conosco, presente, no meio do turbilhão com a gente.
No Natal de Deus havia estrela no céu, significado.
No Natal de Deus havia coral de anjos que antecipavam a grande herança e felicidade dos homens que tivessem boa vontade para viver e crêr. Boa vontade própria? Não. Consciência da boa vontade de Deus e seu bem-querer por eles!
No Natal de Deus havia provisão de amigos. Não os amigos do script pré-fabricado. Não. Os amigos do caminho, da rua, da imprevisibilidade... Desconhecidos irmanados pelo poder do louvor, da fé e da gratidão.
No Natal de Deus bois e vaquinhas ocupavam os lugares que Reis e Rainhas desejariam ocupar, como testemunhas daquele evento histórico sem precedentes.

No Natal de Deus não havia presépio ou presepada. Havia realidade. Havia a Vida de um Deus que não é utópico, alienado, alienante, fanatasioso, isolado, insensível, impermeável ou auto-protegido.

Não. Irreais somos nós e nossas projeções de vida e mundo. Inclusive nossas projeções a respeito do Deus que duvidamos que seja real...

Deus no entanto, é real. E o Natal de Deus é infinitamente mais real que eu.

Se Deus não é real, o menino dormindo debaixo do viaduto também não é. E é ali que ele escolheu estar e ser servido, adorado, descoberto, amado, manifesto, significado, presente. Pra justiça, alegria e esperança de todo o que crê.

E você? Pensando aí que o Natal acabou? Pereceu? Babou? Bichou?

Caia na Real! O Natal nem começou! Começará agora!

Bem mais real do que voce podia imaginar. Aliás... não imagine.

Viva a realidade do Natal de Deus em você!

Esteja você no lugar de qualquer personagem dessas, vá viver o natal! Seja você José, Maria...

Seja você o pastor do campo enviado a algum lugar a fim de fazer companhia...
Seja você um sábio oriental, que chegará com louvor, presente, afirmação, testemunho e solidariedade.
Seja você a mosca do cocô da mimosa, vaquinha do estábulo... não importa!

O Natal sempre é feliz, quando se sabe e se crê que ele adentrou a nossa Realidade mais desnudada. Veio pra estar, ficar, permanecer. Emanuel: Deus Conosco!

Deus que é Deus de todo aquele que, sentindo nos pés a textura e espessura de cada uma das afiadas pedras do caminho da realidade, vai aprendendo a lê-las com o "código braille" da fé. E o que se lê o tempo todo é: "Eu estou com você. Não temas porque eu sou contigo. Eu te amo. O Senhor proverá. Confia! A gente vai junto. Haverá um bom futuro e não será frustrada a tua esperança".

Feliz Natal! Real!

Marcello Cunha

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Perdão e poder

Não é de estranhar que Jesus de Nazaré tenha se recusado a reduzir a virtude a um conjunto confortável de regras; não é de estranhar que ele tenha se negado firmemente a indicar que a conduta do reino pudesse ser domada em normas ou esgotada pela obediência passiva. Essas suas cautelas se enquadram de modo natural em seu projeto de rejeitar o uso de qualquer ferramenta de manipulação e de poder. Legislar é poder, legislar é condicionar, e nada está mais distante da postura que Jesus assumiu para si mesmo e sonhou para os seus amigos.

Também não é de estranhar que a igreja tenha ignorado por completo esse sonho de Jesus, tendo caído muito cedo na tentação de regulamentar e institucionalizar. O desafio do sopro imprevisível do espírito se prestava menos como ferramenta de controle do que a promulgação de novos e exigentes regulamentos, DÉBITO É CONTROLE.pelo que a igreja não tardou a elencá-los e a demandar o seu solene cumprimento.

Em especial, a elaboração de uma nova legislação resolvia o tremendo problema gerado pelo anúncio evangélico do perdão universal dos pecados. Porque, como quem pondera essas coisas não deve esquecer, o rabi de Nazaré era acima de tudo um sujeito que via como essencial viver desafiando as pessoas a celebrar um novo modo de vida com base no desconcertante anúncio divino da remissão das faltas que mancham a ficha de cada um (inclusive, estava implícito, daquelas manchas teimosas para as quais a lei de Moisés não previa compensação ou misericórdia). Tratava-se de uma absolvição incondicional, integral, imediata e gratuita – e, em cada um desses aspectos, inteiramente sem precedentes. O anúncio e o ingresso do reino dos céus começavam com o mergulho literal nessa vertiginosa notícia.

Deste lado de um rio com dois mil anos de largura, estamos habituados a tomar o anúncio do perdão plenário dos pecados como um dos aspectos mais imateriais e etéreos – um dos aspectos mais politicamente inofensivos – da mensagem de Jesus. SER PERDOADO DEVE SER COMPLICADO.Não teríamos como estar mais enganados.

O anúncio da disponibilidade universal da absolvição dos pecados era um golpe que desfechava fraturas profundas nas estruturas sociais, religiosas, econômicas e políticas do mundo de Jesus. Como explicam tão rigorosamente os evangelhos, os representantes do estado de coisas em cada uma dessas esferas não deixaram de farejar essa ameaça no ar. Nenhum governo precisa perseguir gente santa: santos não incomodam, porque limitam-se a apontar o pecado. Jesus e João Batista foram perseguidos porque distribuíam o perdão e a liberdade, anulando e relativizando o poder paralisante da culpa e do pecado.

O problema, naturalmente, está em que nenhum estado de coisas, nenhum sistema de dominação e controle, tem como sobreviver à súbita ausência de débitos.

Os homens que projetaram a igreja formal julgaram que não convinha para a manutenção do sistema que uma pessoa se sentisse por muito tempo inteiramente perdoada, sem dever nada a ninguém – isto é, autônoma, livre, criativa e responsável. A fim de evitar a dificuldade que seria fiscalizar uma multidão autônoma de alforriados, viu-se como necessário colocá-los sem demora debaixo de uma nova e sensata cadeia de exigências. Uma lista de normas, que pudesse ser decorada e que não deixasse margem de manobra ou de dúvida. Por amor ao rebanho e, por tabela, a Jesus.

Nessa manobra, que deve ter sido em grande parte inconsciente, a igreja primitiva intuiu muito espertamente o que sabem hoje em dia todos os governos e todas instituições financeiras: débito é controle. Para que a instituição funcione e para que a máquina continue a rodar você precisa sentir que está devendo para ela. Quem deve, teme.

É por isso que os governos e as instituições tendem a aumentar indefinidamente a sua lista de proibições e de transgressões, mas tendem a diminuir a lista daqueles com autoridade para absolvê-las. É por isso que, nos nossos dias, mesmo as maiores autoridades e os mais poderosos tribunais são constrangidos pelo sistema a não mitigar a severidade de quaisquer penas, especialmente as mais graves. É por isso que é tão fácil conseguir um cartão de crédito e tão difícil sair de casa sem ele. É por isso que os religiosos do tempo de Jesus se incomodavam menos com os seus desvios da ortodoxia do que com a singeleza com que ele perdoava os pecados de quem quer que fosse.

A fim de se garantir a sobrevivência de qualquer sistema, ser perdoado deve ser complicado. Deve ter um procedimento, uma hierarquia, um prazo, um trâmite e um preço. Para que o débito exerça de modo adequado o seu poder de controle, o perdão não pode ser distribuído indiscriminadamente. Ninguém deve ter poder para absolver a seu bel-prazer – e, como se não bastasse a sua própria insubordinação, era com a missão de distribuir o perdão que Jesus convidava seus seguidores a passear mundo afora. Nada é mais subversivo do que o perdão emitido sem critério, e era um Deus assim – uma vida assim – que Jesus apresentava ao mundo. A este mundo.

A singularidade desse indulto universal é tão assombrosa que nem mesmo a igreja foi capaz de represá-la por completo. Porém os líderes pós-apostólicos entenderam muito depressa que a euforia libertadora do mais radical e abrangente dos perdões pode ser anulada imediatamente pela contabilização de novos débitos.

Afinal de contas, quem não deve nada a ninguém pode crer-se livre para mudar o mundo ou para reger a sua própria vida – e nada há de mais perigoso. O espírito da liberdade pode insistir em soprar onde quiser – e nada há de mais inconveniente.

Foi tida como medida urgente e necessária, portanto, reinstaurar a culpa. Foi deliberado como recomendável anular-se o risco da liberdade e do perdão.

Porque, descuidado leitor, o que você empreenderia se entendesse de repente que não deve nada aos seus empregadores? O que você faria agora mesmo se entendesse que não deve nada a seu banco, a seu governo ou a si mesmo?

Por tudo que é sagrado, o que você faria se entendesse que não deve nada a Deus?

Paulo Brabo, da Bacia das Almas