No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

O que Deus uniu...(?)

Fala-se muito no chamado meio "cristão" sobre a santidade do casamento, sua idissolubilidade em função da declaração de Deus na união de Adão e Eva ou por ser um arquétipo da união da igreja com Cristo. Na realidade entre os cristãos, especialmente os evangélicos, há uma ojeriza quase unânime ao divórcio, mas poucos sinceramente tem coragem de refletir sobre o que realmente significa "...o que Deus uniu não separe o homem".

Proponho algumas questões para tentar refletir um pouco mais sobre esse tema, baseado na minha experiência em viver em ambientes eclesiais por minha vida toda:

O fato de um casal de enamorados terem se apresentado diante de um pastor ou padre para publicamente assumirem um compromisso de viverem juntos para toda a vida (ufa, quanto tempo! Kkkkk...), significa que Deus os uniu?

A igreja virou o validador terrestre do caminho incompreensível de um homem e uma mulher juntos sobre a face da terra, conforme afirma Salomão?

É notório o fato, embora empurrado para debaixo do tapete nas igrejas, de que a moçada "temente à Deus" casa para poder transar, aplacando assim "licitamente" a sede da libido, não explicaria em grande parte o fracasso não assumido de muitos casamentos no seio da igreja, inclusive entre os líderes?

Um casal de enamorados que apresentem-se assim, consumidos pelo fogo do tesão, diante do altar para casarem-se "diante de Deus" (nesse caso "representado" ou substituído pela igreja), estariam sendo realmente unidos por Deus? Estariam eles espiritualmente casados mesmo, uma vez que a motivação de casarem é para poderem transar livremente dentro do contexto da moral cristã? Ou a igreja por "chancelar" essa união pelo seu conceito do que seja moralmente aceitável obrigaria à Deus a anuí-la?

Se não for só pelo sexo, mas por outros motivos em idade mais madura como solidão, dependência psicológica, baixa auto-imagem (no caso para casar com um/uma déspota) , pressão social, escassez de pretendentes, entre vários outros motivos que podem levar um casal a se unir em matrimônio será que diante de Deus, na verdade, esses seres estariam realmente casados?

E se durante a vida conjugal descobrirem que se casaram pelos motivos errados, e mesmo diante de uma tentativa de "fazer surgir" o amor que deveria ser a amálgama de sua relação diante de Deus e que seria o motivo -em princípio correto- para ambos se unirem, condenar-se-ia ambos a viverem uma relação de aparências, sufocando a vida e furtando a dignidade de ambos, bem como negando-lhes a oportunidade de recomeçarem suas vidas conjugais de maneira correta?

É bom lembrar que antes de haver separação de corpos, já existe um divórcio de corações e sentimentos que ensejam -especialmente aos homens- uma autorização subjetiva e uma justificativa emocional para "pular a cerca", aí sim tornando a vida insuportável para o traído/a!

Deus perdoa o ladrão, o assassino, o estelionatário, mas não pode perdoar uma burrada que um homem e uma mulher podem fazer a si mesmos em um casamento com as motivações erradas e nem ambos tem a liberdade de, em corrigindo o erro eventualmente pela via do divórcio e aprendendo com esse terrível sofrimento, partir para casarem-se com outras pessoas e assim serem felizes conjugalmente?

A "igreja" sequer admite essa possibilidade, pois seria admitir que tem feito um ineficiente trabalho em instruir seus membros a discernirem-se a si mesmos e submeterem suas consciências a luz da Palavra. Se fizessem isso, não precisariam se organizar em estruturas opressoras das liberdades individuais em Cristo, nem haveria o clero hierarquizado que depende da submissão irracional de seus seguidores para continuar existindo.

Decerto Deus abomina o divórcio, pois é um remédio extremamente amargo de sofrimento à seus filhos, a quem ama. Entretanto não podemos fugir à realidade que muitos casamentos que são celebrados diante do "deus-igreja", são feitos sob os mais variados e equivocados motivos com grandes chances dos noivos quebrarem a cara para satisfazer a exigência da moral social .

Já é passada a hora de encarar esse problema e enfrentá-lo, pois um curso de casais não consegue por vezes mitigar algo que já começa errado. Cada casamento é um casamento diferente, pois são compostos de pessoas de diferentes vivências e experiências. Soluções-padrão tem a desvantagem de polir o exterior de quem não tem consciência própria mediante práticas ideais aprendidas, mantendo uma fachada de êxito mas por vezes não provocando a mudança interior, que é de onde surge toda mudança significativa na vida de alguém.

Questões a serem refletidas, especialmente se levarmos em consideração o papel do casamento nos contextos político e social no decorrer dos tempos no AT e NT.

7 comentários:

Anônimo disse...

Eu concordo em parte com você Eliézer.

Devíamos ser mais presentes e apresentar soluções práticas para a racionalidade na escolha do parceiro e para a santidade dos relacionamentos na igreja.

Agora, eu acredito que um casamento 'mal escolhido' possa vir a se tornar bênção. Sei que Deus pode transformar, renovar ou criar o amor se necessário. O Senhor é especialista em transformar 'burradas' em acertos.
Acredito sinseramente que Ele quer fazer isso para quem o dá liberdade para fazer isso. O problema é que o ser humano está sempre disposto a RESOLVER A SUA PRÓPRIA VIDA: não deu certo, por isso: divórcio.

A Igreja tem falhado ao se omitir quando o assunto é sexualidade, apesar de estar sempre disposta a ser crítica com gravidez de adolescentes, homossexuais, sexo antes do casamento, pedofilia, pornografia, divórcios... Isso é um tanto ambíguo por que de maneira alguma demonstra o Amor de Deus, pelo contrário é extremamente legalista.

Primeiro a Igreja precisa aprender a amar o ser humano. Aí então, ela vai compreender que a luta contra o pecado não é individual e terá maturidade para tratar disso coletivamente.

Vera "Estrangeira" disse...

Sou desfavorável ao divórcio, mas é muito fácil jogar pedras em quem, depois de anos de sofrimento e de busca de Deus, acaba não suportando mais e acaba por se divorciar. Porém, onde está a igreja que não prepara os jovens sobre o casamento? Qq casalzinho com 6 meses de namoro já é exortado pela liderança a se casar, para "não pecar contra a carne". Muitos se casam por pressão da igreja e das famílias cristãs, sem nem discernirem o que realmente é um casamento. Aí algum tempo depois o casal se separa, mas aí ELES são os únicos pecadores, a igreja e quem os pressionou a tomarem essa decisão simplesmente "lavam as mãos" e os excluem de seu meio. E pensar que Jesus não apenas falou com a samaritana do poço, que estava em seu sexto casamento, mas permitiu que ela fosse usada para testemunhar Dele entre os de Samaria(Jo 4)!

Sorte dessa samaritana que se encontrou com Jesus. Que a Igreja tenha a mesma sorte, e possa gozar da mesma Graça que Ele nos traz...

Eliézer disse...

Olá Débora

Grato por ter comentado meu post.

Não defendo o divórcio como solução "mágica" para os problemas de relacionamento. Creio inclusive que mesmo um casamento pelas motivações erradas pode conhecer a restauração e menciono isso quando ventilo a possibilidade de "fazer surgir" o amor que deveria existir entre um casal.

No entanto esse tipo de solução depende dos conjuges quererem se entregar incondicionalmente a esse processo, por vezes doloroso, pois implica em despir sua alma para o outro e efetivamente agora não só na carne, tornarem-se um. E aí o bicho pega.

Essas questões tem haver necessariamente com o raso nível de compromisso individual com a verdade -seja de seu interior com o pecado imanente ou com a mensagem do evangelho de Cristo. E esse nível raso vem da pregação da superficialidade dos púlpitos, com o aqui-agora da prosperidade ou o fast-food espiritual de milagres.

Lembremos que Jesus afirma que o divórcio era uma concessão de Moisés à dureza do coração humano e que no princípio (Adão e Eva) não era assim. E Paulo arbitra em suas cartas alguns limites práticos de balizamento para que o divórcio não virasse a festa que os religiosos de hoje temem que ocorra, e que na época de Paulo era lugar-comum onde qualquer alegação banal era motivo para a separação.

Esse tipo de pregação que não leva à reflexão do conhecer-se quem se é e não prega a graça de Deus que apazigua o interior de quem se reconhece pecador como resultado dessa sondagem pessoal, antes imputa a teologia da meritocracia como substituto da consciência em fé, cria os monstros que se esconderão no futuro sob o sofá da sala.

Como levar pela pregação da Palavra o ser à consciência de quem se é e à liberdade que Cristo proporcionou com sua morte e ressurreição, implica como resultado criar crentes que pensam e avaliam as coisas segundo sua experiência pessoal com Deus (portanto em muitos casos prescindindo do líder para decidir sobre seus caminhos pessoais), o clero organizado que aí vemos hoje não tem como se sustentar.

Portanto se criarem ovelhas débeis em termos de autosuficiência espiritual (diga-se de passagem, o inverso daquilo que Paulo incentiva aos líderes da igreja primitiva à fazer), a necessidade de sua existência se justifica. Entretanto é o povo quem sofre com as imposições de conduta que conflitam com o egoísmo interior que estes incentivam por meio de suas pregações.

O divórcio é uma solução extrema. Para ser usado no caso de total fracasso em tentativas anteriores, incluindo aí a limitação do coração de cada conjuge envolvido no relacionamento. Mas acredito ser o meio mais honesto de se evitar a subvida que a permanência no erro pode gerar, com o furto da dignidade de cada um.

Paz!

Eliézer disse...

Olá Vera "Estrangeira"!

Concordo contigo. Sou somente favorável ao divórcio se já se tentou de tudo que seja lícito no processo de restauração. A partir daí, permanecer no sofrimendo para não escandalizar a igreja -pois o evangelho nunca é escadalizado por quem age em favor da sanidade humana- é jogar fora a dignidade resgatada por Cristo na cruz.

°°Roberta°° disse...

Só quero dizer que esse texto foi uma luz na minha vida.

Eliézer disse...

Cara Roberta:

Fico alegre em saber que minha "verborragia" tem servido para o bem de quem lê. Que a paz que excede a todo entendimento humano habite ricamente em seu coração.

Anônimo disse...

Concordo em partes...
Acho sim, que o casamento é uma aliança de amor, que deveria ser mantida como testemunho de um juramento, feito outrora.
Mas hoje, todos os tipos de relacionamento andam razos, não há vínculos, laços fortes, e em muitos casos, nem fidelidade existe.
O divórcio, na Igreja é algo que deve sim, ser levado a sério, já que cada dia que passa é mais comum, crentes divorciados (eu, sou uma), mas também vejo por um outro lado, ninguém é obrigado a viver infeliz ao lado de alguem que não ama.
Divórcio, não condiz com o amor, e deve ser por isso que Deus só permite em últimos casos, ele só combina com algo: egoísmo.

Abçs

Núbia Rodrigues
http://www.nubibella.com