No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

sábado, 15 de agosto de 2009

Entidades autônomas


Na última apresentação do querido e exímio músico Stênio Marcius, na Estação Vila Mariana, do Caminho da Graça, pedi a ele que cantasse “O Sonho” - uma das musicas dele preferida por mim -, e comentei que está música é a preferida daqueles que tenho mostrado o trabalho dele. E ele respondeu que as músicas se tornam entidades autônomas, “deixam” de ser propriedades do autor. Contra-argumentei que era relativo porque as músicas nascem das profundezas da alma do autor, tem o seu dna. Minha réplica foi no sentindo da importância de não desconsiderarmos a importância do autor, e interpretarmos a letra ao bel-prazer do ouvinte. Mas ele sabiamente treplicou que embora isso fosse verdade, as músicas chegam uma hora que extrapolam o sentido dado pelo autor.

Pensei rápido e concordei com ele. Para o bem ou para o mal, esta é a verdade, uma mesma semente pode produzir diferentes frutos a depender do estado do solo em que ela vai ser lançada. Frequentemente minha alma é irrigada de beleza, meu coração é nutrido de luminosidade espiritual e minha consciência no Evangelho é ampliada por intermédio de músicas de autores que, até onde eu saiba, não partilham a mesma Fé que a minha e aparentemente não tiveram a intenção de produzir o efeito que em mim produziu, mas “paradoxalmente” por intermédio de suas letra eles produziram efeitos do Evangelho no meu ser. E creio que é assim porque, “Toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação ou sombra de mudança (Tiago 1.17)”. Isto independentemente do portador da boa dádiva crer nisso.

Braulia Ribeiro, missionária da Jocum (Jovens com uma Missão) Bque gosta de tocar “Índio”, do Caetano Veloso, e “Maria, Maria”, do Milton Nascimento, nos congressos em que prega, conta que num encontro nacional desta missão enquanto à equipe de louvor tocava - a seu pedido - para adorar a Deus com intimidade, “Velha Infância” dos Tribalistas, composta por Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte, um espírito doce e especialmente terno envolveu o ambiente, e encheu a boca e o coração dos jovens presentes de alegria, a despeito de ter deixado muita gente escandalizada.

“Seus olhos meu clarão/Me guiam dentro da escuridão/Seus pés me abrem o caminho/Eu sigo e nunca me sinto só...”. Seria profano louvar com essas palavras a Luz do mundo, o Caminho, a Verdade e a Vida, Àquele que prometeu estar conosco todos os dias até a consumação do século? Haveria alguém mais digno de receber esse tributo de louvor do que Jesus? Creio que não.

“Se o mundo for desabar sobre a sua cama/E o medo se aconchegar sob o seu lençol/E se você sem dormir/ Tremer ao nascer do sol/Escute a voz de quem ama/Ela chega aí (...)Você pode estar tristíssimo no seu quarto/Que eu sempre terei meu jeito de consolar/É só ter alma de ouvir/E coração de escutar/Eu nunca me canso do uníssono com a vida”.

Esses versos proféticos do Caetano já foram e são Palavra de Deus na minha vida. Deus através do seu Espírito sempre, independente da magnitude da dor, do tamanho e da inexplicabilidade da tragédia, tem um jeito especial de consolar, exclusivo de elucidar mistérios e de decifrar enigmas existenciais. A “voz de quem ama” não tem distância, altura ou profundidade que a limite, ela sempre aí, aqui ou lá. Para isto basta não endurecer o coração e silenciar, ou no dizer, da música ter “a alma de ouvir e o coração de escutar”.

Sempre que escuto “A Cura”, de Lulu Santos além de me sentir encorajado no enfrentamento positivo da vida - “Enquanto isso/Não nos custa insistir/Na questão do desejo/Não deixar se extinguir/Desafiando de vez a noção/Na qual se crê/Que o inferno é aqui” - e de minhas esperanças escatológicas ficarem animadas começo a indagar: A quem ele se refere quando diz que se vira, será quando menos se esperar e de onde ninguém imagina? Alguma semelhança com aquele de quem disseram: “De Nazaré pode vir alguma coisa boa”? E que prometeu que virá repentinamente como o ladrão da noite?

Que certeza vã é essa, que esse “certo alguém” quando entrar no caminho e mudar a direção demolirá, reduzirá a pedra sobre pedra? Qual é a cura que toda raça experimentará para todo o seu mal?

Quando ouço Beto Guedes em “Sol de Primavera” dizer, “Já choramos muito/Muitos se perderam no caminho”, lembro-me daqueles que começaram tão bem, na simplicidade do Evangelho, apaixonados por Jesus, com um coração missionário, com um espírito voluntarioso, e que se perderam nos caminhos de suas vaidades. Uns se tornando astros e estrelas do “Mamon gospel”, outros burocratas da religião e outros tantos cultuadores da tradição, da doutrina, da moral, e do próprio ventre.

Porém a tristeza é logo dissipada, e meu coração é alentado e encorajado quando ele diz, “Mesmo assim não custa inventar/Uma nova canção/Que venha nos trazer/(...)Sol de primavera/Abre as janelas do meu peito”. Lembro-me de tanta gente consciente ou inconsciente do Evangelho, a semelhança de Daniel, não se contaminou com “as finas iguarias do poder” e de Elias não se ajoelhou aos “Baals” contemporâneos.

Creio assim porque creio na total soberania de Deus e na subversiva e ilimitada liberdade do seu Espírito para consagrar a seu serviço todas as coisas, quer sobre a terra quer sobre o céu, porque, em Cristo, Ele reconciliou consigo todas elas (Colossenses 1.20). Quem crê assim, tem a consciência convencida assim como a de Paulo, o apóstolo, “de que nenhuma coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim o considera; para esse é impura (Romanos 14.14)”. E que, por isso, como ele diz Tito, um jovem pastor, “Todas as coisas são puras para os puros; todavia, para os impuros e descrentes (Tito 1.15a)”.

Por fim, ofereço um vídeo de um verdadeiro hino à vida, a sacralidade do amor; que celebra e louva de forma sublime a comunhão Criador e criatura.

Julio César, Psicólogo e mestrando em Ciências da Religião, escreve para o Bibliaworldnet.

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