Em nossa sociedade, as pessoas relacionam-se com a imagem que projetam de si mesmas aos outros. Como não são sinceras sobre si com os outros, sabem que os outros também não se apresentam como são. Daí a crise de confiança.
Já viu imagem conversando com imagem? Eu não. Talvez só um holograma com outro e ainda em filme de ficção ou algum experimento científico. Relacionamento só existe entre gente. Gente com sentimentos, opiniões, experiências únicas que nos fazem ser quem somos.
Essa afetação pela imagem nos leva muitas vezes a querer que nosso relacionamento com Deus se dê com base na imagem que fazemos d’Ele pra nós mesmos e naquilo que projetamos de nós para esse “deus”. E um relacionamento nesses termos só tem um meio de se estabelecer: através da magia -que é definida como a ciência e arte em que se pretende empregar conscientemente poderes invisíveis para obter efeitos visíveis atribuídos à intervenção dos espíritos, bem como o conjunto de práticas ocultas, por meio das quais (sobretudo nas sociedades primitivas) se pretende atuar sobre a natureza.
Magicamente pensamos que se adotarmos determinadas posturas e códigos de honra aceitos pela moral vigente (poderes invisíveis), obteremos a resposta que desejamos desse “deus”. E se este não nos der o seu favor, propomos uma atitude exterior de devoção extrema com oferendas à esse “deus” ou às organizações que o representam, de preferência respaldado em algum tipo de interpretação de algum escrito sacralizado pelo homem.
Não é desse deus que temos buscado a face. Temos buscado a face de Um que se encarnou, viveu entre nós, padeceu o que todos nós padecemos. Que operou o sobrenatural como sinal para uma geração incrédula e que vem operando dentro e fora dos limites naturais sem que oferenda alguma se faça à Ele, mas as realiza por amor. Um que se identificou com nossas limitações e inclinações humanas. Que foi tentado como o somos todos os dias e sabe o poder de sedução de uma tentação para nós. De Um que se alegra conosco, e chora conosco também. De Um que não é atraído pelo que lhe ofertamos, mas já é atraído pelo que somos (sua criação) ainda que nossas atitudes supostamente possam decepcioná-lo. De Um que conhece nossa estrutura e sabe que somos pó, carentes de misericórdia e graça de Sua parte. De Um que nos amasse a ponto de, ao inverso do intento da magia, ter sacrificado algo precioso aos Seus olhos, para resgatar aquilo que amou e veio a se corromper.
Se sua procura é de um Deus de verdade, que não se deixa aprisionar pelas convenções humanas, antes é um ser livre e amoroso, convido a juntar-se a nós no caminho que Ele mesmo propõe para cada um que O busca. O caminho da Verdade e da Vida. O exercício de sermos confrontados com nós mesmos e de nos discernirmos ao mesmo tempo que o desconforto por nos descobrirmos tão frágeis e inconsistentes é remido pela fé na Graça e Misericórdia d´Ele. O aprofundamento de Seu amor, quando afirma fazer morada em nós, sem rituais, sem possessões, sem inconsciências, fazendo-nos ser Sua presença no meio de uma sociedade que adora o engano das imagens. Quando nos deixamos ser levados por Ele, a confiança nos relacionamentos se restabelece em nossas vidas pois já não vivemos nós, mas Ele vive em nós.
2 comentários:
se deus não é imagem ou não esta na imagem, como vc sabe que ele nos ama e que veio pra ca morrer por nos?
quero dizer, vc leu isso em algum lugar, certo? na biblia, provavelmente, e nesse mesmo livro, existem muitas "imagens de deus". e , digamos que muitas dela não são de um deus amoroso...
Esse é seu ponto de vista. Tem todo direito de discordar de mim.
Vejo que a bíblia, em sendo um relato escrito da operação divina na história da humanidade, carrega em suas narrativas a percepção da época e do escritor em relação ao fato narrado. E que isso não tira o valor do texto.
Quem se equivoca é o homem ao sacralizar a Escritura e atribuir à ela um satus de "Deus na terra", infalível e inequívoco através dos tempos, sendo que Cristo (que, segundo a própria escritura é manifestação plena do divino na terra) mostra na narrativa dos evangelhos que o que antes fora escrito (o relato histórico e parcial do antigo testamento de um Deus vingativo e cruel) estava dando lugar a algo mais elevado e pleno de conhecimento, onde o que se exigia como performance externa sob pena de castigo (imagem), agora nasceria da voluntariedade de abrir-se à vivência da Verdade (realidade).
Não sem motivo, entendo eu, Jesus ter vindo à terra em um momento onde a consciência humana começava a dar sinais de ter iniciado a jornada à sua plenitude, com os pensadores gregos - em especial Sócrates com seu famoso "Conhece-te a ti mesmo". É muito evidente que a essência dessa máxima foi uma ação regular no relacionamento de Jesus com aqueles que a ele se achegavam.
Para encerrar, penso que a bíblia toda deve ser lida e interpretada segundo a experiência e exemplo de Cristo relatada nos Evangelhos. O que se encaixa no exemplo de Cristo permanece, o que não se encaixa, considero ultrapassado. Foi assim que Paulo encarava a lei.
Você pode afirmar agora que minha afirmação é paradoxal, uma vez que antes menciono que acredito na grande possibilidade de percepção equivocada dos relatos bíblicos e agora me utilizo da percepção de outro autor bíblico que pode também estar equivocado em seus relatos e cartas para embasar minha argumentação.
Antes que tal questão se apresente, lembro que em momento algum invalidei os textos bíblicos como fonte de conhecimento de fatos passados, ainda que apresente equivocos. Nem mesmo a idoneidade de seus escritores. Da mesma forma, vemos hoje nos meios de comunicação um mesmo fato ser narrado por pontos de vista diferentes. Então tenho liberdade para escolher aquela que mais se encaixa em minhas concepções e entendimento sobre a vida.
No final, não passa de uma questão de identificação e escolha, exercício que praticou ao escolher não crer na descrição bíblica de Deus.
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