questão proposta em um fórum de debate sobre Malaquias 3:10:
O contexto de aplicação de Malaquias 3:10 é a vigência da velha aliança, onde a obediência à lei era o parâmetro de relacionamento espiritual entre os homens e Deus.
Manter a tribo de Levi era obrigação das demais tribos de Israel conforme a lei mosaica, uma vez que esta foi designada por Deus para serem uma linhagem de sacerdotes da aliança em vigor e sem direito à possessão de terra, sendo que sua única herança era o Senhor.
Segundo a cronologia bíblica o profeta Malaquias viveu e exerceu seu chamado na época de Neemias e a reconstrução dos muros de Jerusalém ou em momento imediatamente posterior a esse. Como o povo israelita havia sido disperso, os cuidados com a manutenção do templo e dos levitas foram relaxados e essa infidelidade à manifestação expressa por Deus na lei mosaica foi denunciada por Malaquias.
Neemias criou um sistema centralizado de coleta e distribuição das ofertas aos levitas, visando a restauração do sacerdócio levítico e a conseqüente manutenção da ordem da aliança em vigor, que dependia da existência e do exercício do oficio sacerdotal para subsistir. Esse sistema centralizado em Jesusalém era a "Casa do Tesouro", onde todas as ofertas eram coletadas e distribuidas pelo país todo aos levitas conforme a necessidade de cada família sacerdotal visando a restauração do ofício sacerdotal no período pós-exílio.
Se voltarmos à lei mosaica veremos que Deus apresenta ao povo de Israel dois caminhos dentro da aliança ali pactuada: a bênção para quem obedecer a Seus estatutos e a maldição para quem desobedecê-los. Se era obrigação das demais tribos sustentar a tribo de Levi e estes não estavam cumprindo com sua obrigação mediante a aliança que fizeram com Deus, obviamente estavam recebendo como recompensa a maldição.
E, segundo essa mesma aliança, se eles se arrependessem e voltassem a sustentar a tribo sacerdotal, eles seriam alvo de bênçãos. Nada além daquilo que já vigorava como prática.
Portanto, quando Deus CONVIDA (e, veja bem, não OBRIGA) a que se volte a sustentar o oficio sacerdotal conforme o modelo de custeio divino expresso na lei, Ele nada mais do que reafirma que Sua Palavra é verdadeira e que o tempo não apagou de Sua memória que Ele prometeu recompensar com bens aquele que age em obediência à lei no quesito manutenção do ofício sacerdotal.
Lembrando sempre que isso era o contexto da velha aliança, onde havia uma lei expressa e um sacerdócio constituído para cuidar de que esta fosse obedecida.
Mas e agora com a Nova Aliança?
Também existe uma lei, agora não mais escrita nas tábuas, mas no coração; e um sacerdócio não mais constituído externamente, mas pessoal.
Portanto, à priori, o modelo de custeio sacerdotal da velha aliança não mais tem razão de existir. O Espírito de Deus foi derramado sobre todos os que O receberam em Cristo, para que todos sejam sacerdotes de si mesmos e guiados diretamente por Deus. ALELUIA!!!!
Entretanto, reconhecemos que esse mesmo Espírito reparte dons e ministérios aos homens e muitos deles dedicam-se diligentemente e integralmente ao ministério da palavra. E Paulo recomenda que esses homens sejam honrados pela igreja com a manutenção de sua família, pois digno é o trabalhador de seu salário.
Paulo mesmo apresenta o modelo de custeio das atividades da igreja na nova aliança, que era o mesmo que Jesus utilizava tendo Judas como administrador: a liberalidade em contribuir dos atingidos pela Graça do Evangelho.
Jesus era sustentado pelas ofertas voluntárias de seus seguidores. Os apóstolos também. A questão é que como nos primórdios da igreja não havia ainda os textos do NT organizados e conhecidos como hoje, a igreja lançou mão dos escritos do VT como base para elaborar suas doutrinas, o que gerou dissonâncias entre a doutrina concebida e a palavra pregada pelos apóstolos, a ponto de surgirem rusgas ente Paulo e Pedro, bem como inúmeros alertas de Paulo em suas cartas sobre o perigo do retorno à lei, sendo que a partir de Cristo vigora-se a lei da Graça.
Daí vermos enraizado nos costumes da igreja desde seu início uma série de limbos doutrinários, incluindo esse do condicionamento do recebimento da benção material a uma contribuição, que pela nova aliança segundo Paulo já nos foi dada graciosamente junto com Cristo pelo Pai das luzes.
Ainda que se dizime ou oferte a pedido da igreja (o que lhe é lícito assim proceder visto a recomendação de Paulo no tocante à manutenção dos ministros e das despesas de manutenção), essa doação deve ser feita com coração liberal e com alegria no valor que voluntariamente se proponha no coração (nada dessa história de "deixa Deus dizer quanto você deve dar", indução psicológica de massas), sabendo que a contribuição é meio de manifestação de gratidão pela tão grande salvação obtida por Cristo para nós. Não meio de se obter as bênçãos que já nos foram dadas pelo Pai. Esse papo de promessa de Malaquias 3 na igreja é como querer vender ao caipira incauto a ponte Rio-Niterói sob a promessa de que não precisará mais pagar pedágio para atravessá-la.
Esse é meu entendimento.
Paz!
No que creio e tento viver.
Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.
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