No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

A teologia da prosperidade e a morte


Fiquei nesses dias refletindo sobre esse momento crucial da vida humana: a morte. Em condições normais, que poder ela tem de despertar consciências para a transitoriedade da vida.

Paradoxalmente constato o medo que os cristãos tem da morte. Especialmente os adeptos das correntes que professam a teologia da prosperidade, normalmente de origem carismática.

Confesso que nasci em um lar chamado “cristão”. Não que isso impedisse que minha família vivesse também as mazelas de ser gente e família como todo ser humano. Mas, pelo menos, éramos ensinados desde crianças a acreditar na vida eterna, na transitoriedade da vida, e que a morte antes vista como a recompensa pelo pecado, se transformara em um momento de encontro face a face com Deus.

Recordo-me da época em que quando um crente morria, em não havendo questões sanitárias e médicas envolvidas, o corpo era velado no templo. As famílias se revezavam em apoiar e consolar a família enlutada. O pastor da igreja, e não outro, oficiava o culto solene de ação de graças junto com outros pastores ali presentes, se estivessem. E ao lado da tristeza da perda, um inexplicável ar de esperança se manifestava através da fé consistente daqueles cristãos e dos cânticos que entoavam.

Obvio, nada é perfeito. Basta lembrar que passado esse momento, as disputas e as vaidades voltavam a imperar. Coisa típica de pecador, afinal igreja foi feita para pecador e não para santo. Mas que em nada diminuía a fé nas verdades da Palavra, nem o genuíno sentimento de solidariedade em momentos como esse.

Hoje, no entanto, a morte que evidencia a transitoriedade da vida é escondida do povo. O ensino alienante é o “viver na dureza não é coisa de Deus... ficar doente é coisa do diabo... há poder em minhas palavras... não admito o roubo na minha vida... posso determinar minha vitória... Deus está disposto a me abençoar desde que eu ‘abençõe’ a obra d’Ele... pregue que seu “deus” é mais forte que o deles, será natural que queiram ficar do lado do deus mais forte... morte? Que morte? Eu vou ser arrebatado!!!!”

Daí em cerimônias fúnebres vermos gente que se diz cristã inconformada com a morte... não se conformam que a mãe de 95 anos morreu... querem-na viva a qualquer custo, ainda que esse ser sofra de males que só a morte para aliviar, para não sofrerem, pois sofrer não vem de Deus em sua concepção... uns orando para que haja uma ressurreição antes de fechar o caixão, outros disfarçadamente impondo as mãos sobre o morto determinando que volte à vida e mais alguns questionando porque Deus permitiu a morte... cenas tão ridículas quanto a fé destes.

A morte põe em risco as bases da teologia da prosperidade, por isso ela é varrida para debaixo do tapete... vai que em um momento como esse, as consciências despertem e descubram que não é como se morre que importa, mas sim como se vive, como Jesus mesmo afirmou na passagem do acidente com a torre de Siloé.

Por isso quando um irmão morre, isso é sempre comunicado “de leve”, sem destaque, seguido do pedido de orarmos pela “consolação do Espírito Santo” sobre a família. Poucas vezes vi uma palavra de incentivo de visita aos enlutados. Colocar um caixão com um corpo inerte no templo? Dificilmente. Para oficiar um culto em Ação de Graças mandam aquele que consideram o pastor mais “inexpressivo” do ministério, o cara que encara tudo pelo ministério... exceto se o morto era rico... quem sabe sobra uma doação póstuma dele para a “igreja”?

A exposição clara desse fato da vida é demais para a cabeça dos neo-crentes. Todos no íntimo sabem que esse provavelmente vai ser seu fim. Alguns de súbito e sem dor, outros após curtos ou longos períodos de sofrimento. Momentos onde determinar, barganhar, testemunhar “pela fé” a cura não passam de placebos psicológicos para acobertar a desesperança que tal teologia instala na pessoa.

"Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens."
1 Coríntios 15:19

Esse versículo sintetiza o que penso sobre isso. Enquanto essa teologia do umbigo prevalecer, mais e mais pessoas terão medo da morte e do sofrimento, pois sua vida se resume a atender seu ego e as demandas da sociedade com uma “forcinha de Deus”. Nada de transcendência. Não estão conscientes de que a vida é mais que comida e bebida. Outros acreditam que estarão justificados pelas suas obras no “ministério”, na propagação de tal teologia enganosa, quando na verdade serão demandados por Ele por não se abrirem à verdade da Palavra e não levarem essa mensagem de esperança do evangelho que poderia salvar esse povo todo do medo da morte.

É mais fácil dar falsas esperanças, ainda que se utilize marotamente da bíblia para respaldá-las, que ensinar a cada um como se vive! Melhor ainda se essa falsa esperança puder virar fonte de renda para viver uma vida regalada, para corroborar a mensagem!

Essa pregação tresloucada transforma a todos os seus seguidores nos seres mais miseráveis da terra, pois o seu Cristo é só para consumo imediato e sua visão pós-morte freqüentemente inexiste ou sua esperança nesse quesito é frágil. Os ateus e os seguidores de outras religiões estão mais preparados para lidar com a perda e o sofrimento que estes "cristãos".

Nenhum comentário: