No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Graça na desgraça

Michael Jackson, o entronizado “Rei do Pop” morreu.

A notícia correu rapidamente nesse mundo virtualmente globalizado.

Fãs aglomeram-se em locais-ícone da história dessa figura do mundo da música, as TVs cobrem à exaustão o fato, nos principais portais da internet as últimas notícias e comentários sobre sua vida são abundantes, os mecanismos de busca como o Google por exemplo registram 79 milhões de resultados no momento em que escrevo essa reflexão.

Garoto negro, pobre, filho de um metalúrgico exigente e de uma dona-de-casa afetada pela poliomielite, nasceu em plena época da luta dos negros pelos mesmos direitos civis que os brancos. Desde cedo seus irmãos mais velhos demonstravam talento para a música, e com Michael não era diferente. Desde a infância era evidente seu carisma, algo que seus irmãos não possuíam, além de uma voz marcante que o levou a ser o vocalista e destaque da banda Jackson 5, em 1969.

Já nos anos 1980, segue em carreira solo lançando 3 discos que o consagraram no cenário mundial da música, uma vez que como vocalista do Jackson 5, seu talento era reconhecido: Off the Wall produzido pelo maestro Quincy Jones; Thriller e BAD. A explosão de criatividade, evidenciada na fusão de estilos musicais e no tratamento diferenciado de seus vídeo-clips, com destaque para Thriller, o consagrou ao posto que até ontem desfrutou em vida , como “Rei do Pop”.

Como todo ciclo da natureza, após o ápice vem a fase de declínio. Com álbuns não tão inspirados, repetindo as mesmas fórmulas que o consagraram, mas mesmo assim mantendo seu estilo e ainda conquistando novas gerações com sua música, entra em uma fase estável em sua carreira, que poderia ter se perpetuado caso suas extravagâncias e escândalos não tivessem prejudicado sua imagem pública.

Acusações de pedofilia, mudanças radicais na aparência, casamentos esquisitos, concepção de filhos realizados de maneira suspeita, gastos perdulários, processos judiciais, acordos milionários, vida extravagante, manias, esquisitices e finalmente falência são os principais ingredientes nefastos de sua curta vida.

No que tange a saúde lúpus, vitiligo, dores constantes a ponto de ter se viciado em analgésicos além da exigência extrema do corpo nas danças são algumas das doenças mais divulgadas. Quanto à sua vida, teve um pai exigente e autoritário, o seqüestro de sua infância e adolescência pela fama, o excesso de dinheiro que permitia a si a fuga da realidade e o assedio das vicissitudes inerentes ao show-business.

Certamente, apesar de aparentemente ser uma criança-adolescente aprisionada no corpo de um adulto (a chamada síndrome de Peter-Pan), Michael Jackson viveu, em intensidade, mais de 50 anos. O turbilhão que o assolou desde os 9 anos de idade, o envelheceu rapidamente na alma. Tornou-se vítima de seu talento e carisma ao entrar na roda da neurose coletiva de criarem para si “ídolos”, esquecendo-se de suas limitações como qualquer ser humano normal e permitindo-se que suas esquisitices dominassem sua vida, não mais discernindo as coisas.

Paulo em 2 Coríntios 4:7 diz: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós.”. Apesar do contexto concernente ao evangelho que esse fragmento integra, não consigo deixar de associá-lo a vida desse astro pop.

Apesar da pobreza e de sua origem étnica, a vocação musical de sua família, herdada de seu pai, músico que tocava na noite, eram sinais manifestos da graça de Deus, mais ainda com o carisma do pequeno Michael. Mesmo diante de uma família em um contexto fraturado, com cobranças, exigências, má conduta paterna, relacionamentos interrompidos, Deus não se furtou em agraciá-los com o dom da música, algo que é tão importante na terra como no Céu, ainda mais nesse.

O uso dessa graça, que só se manifesta em gente, é de competência pessoal. E decisões pessoais tem o poder de transformar graça em desgraça. Ao ver a incontida vocação de seus filhos para a música e também uma oportunidade de melhorar a vida de sua família com esse dom, seu pai tratou de investir nesse sentido, obstinadamente esquecendo-se que o “menino de ouro” era só um menino, que precisava ser menino em seu tempo de menino.

No entanto, mesmo diante dessas circunstâncias, o “tesouro” do talento e do carisma de Michael sempre estiveram contidos em um “vaso de barro” – o próprio Michael. Uma grande voz em um ser infantilizado; um performer contido em uma aberração física; um ser divinamente criativo com uma conduta sexual duvidosa; um ser que em seu interior abrigava o astro reluzente de seus dons concomitante ao buraco negro de sua existência.

Esse conflito irresoluto o levou à reclusão. Além das necessidades financeiras que o pressionavam, dizem que ele animou-se a retornar ao show-business pois queria que seus filhos -agora já mais crescidos- o vissem no palco, mais ou menos no mesmo sentimento do pai que leva, orgulhoso, seu filho para o trabalho. Quem sabe?

Para mim que na minha adolescência e juventude tiveram a presença marcante de Michael Jackson, apesar dos escândalos, torcia para que esse retorno pudesse ser “a” volta por cima. Para que além de mim, minhas filhas pudessem testemunhar essa manifestação da graça incontida de Deus em um ser humano, tão humano como Michael Jackson. Que mesmo diante de suas idiossincrasias, seu talento e carisma divinos falavam mais alto que qualquer fracasso em sua vida pessoal.

Na verdade o que seus fãs não sabem é que são fãs não de Michael Jackson, mas da graça divina que resolveu se manifestar nele, apesar dele. O “vaso de barro” se quebrou, sem conserto na terra. Fica a lembrança da graça divina que ele manifestava nas suas músicas, danças, clips e shows.

6 comentários:

Rodrigo Melo disse...

Post incrível!

Vi lá no PavaBlog...

Tanta gente blogando sobre o MJ e poucos tão verdadeiros como esse post...

Parabéns!!

Antonio Mano disse...

Cara.. sem comentários.. expressou nesse texto o pensamento e o sentimento de toda uma geração.

Belo post.

Estava pensando em escrever algo também, mas o seu texto definiu tudo.

Reverberei no meu blog.

Abraços
PAZ

Eliézer disse...

Caro Rodrigo:

Esses dias o tema da morte vem me levando a refletir sobre a tolice de nossa vaidade.
Se você leu o post sobre a morte e a teologia da prosperidade deve ter percebido esse atual viés de meu ser nesse momento.
Paradoxalmente ontem foi o marco de uma mudança ha muito esperada por mim, mas a tristeza pela morte de MJ fez-me recolher em pensamentos. Deus usa os momentos de nossa vida para moldar nosso caráter, para sermos como Jesus.

Paz e bem!

Eliézer disse...

Mano e Lívia:

A estrutura desse texto aconteceu ontem à noite em minha mente... escreve-la foi um ato quase de "psicografia". Mas sei de onde nasceu e porque nasceu em mim, daí tê-lo postado.

Reverberem tudo de bom que encontrar nesse espaço, manos!

Bruno Jardim disse...

Amém !

Parabéns pelo post !

De fato a Graça não é monopolizada, antes Deus brinda a criação com a Graça Comum e esta se manifesta de maneira multiforme.

Graças a Deus por isso !
Abraços

Geração Dependente disse...

Cara.. o MJ era mt precioso pra Deus.. nossa.. o cara tinha mt amor pelas crianças.. e eu num acredito nessas paradas de pedofilia, acredito em pais q keriam se aproveitar da grana dele.. o MJ éra mó Traumatizado com abusos, ele seria a ultima pessoa a fazer isso.. ele dormia sim com crianças abraçados.. mas sem nada de mais.. o estranho é q depois q ele morreu.. o massa q 20% da fortuna dele foi pra instituições para crianças... algo assim.. meeee mano.. o Cara era mt precioso, mts q se dizem "Cristãos" não amam nem as pessoas da própria casa ou igreja.. e já se acham pra julgar um cara igual esse.. tive pena dele...