No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

terça-feira, 31 de março de 2009

Restauração desvirtuada

Estive várias vezes em Bogotá. Recebi imposição de mãos e oração do Pr. César Castellanos. Foi lá que vi pela primeira vez uma Igreja com I maiúsculo, bem perto da Igreja Primitiva. Por isso me entristeço estar escrevendo neste exato contexto.
A Visão Celular no Modelo dos 12 sempre foi dita como simples, aplicável em qualquer contexto cultural e denominacional. No que tange a métodos, nunca vi nada tão didático e simples. No que tange à doutrina, em Bogotá se fala muito de prosperidade e maldição. Mas como a palavra da cruz é extremamente central, e a santidade é a linguagem fundamental, assegurei-me de estar no lugar certo, com gente certa. Quem vai a Bogotá fica ‘assustado’ com o clima de festa. Ademais, a Igreja lá (MCI) não tem templos, e o povo ministra muitas vezes nas praças, nas calçadas, no chão. É lindo, porque enchendo uma cidade de células se vasculariza e penetra em todos os segmentos sociais.
A questão da Visão Celular no Brasil foi ter entrado pela pessoa errada, Valnice Milhomens. Não em termos de caráter e espiritualidade obviamente, mas exclusivamente por questões doutrinárias. Uma pessoa que eu pessoalmente ouvi dizer que, se Jesus não voltasse até 2007 rasgaria a Bíblia, não poderia jamais ser portadora de uma visão que se propunha de Restauração. Jamais !!! Sua pregação defendendo o sábado, falando de Israel, sendo uma mulher em governo, e puxando para si a sina de uma revelação especial, é óbvio que complica a aceitação da pessoa e da mensagem. E ainda: a dita Confissão Positiva levou a maioria dos cristãos a deixar de falar a verdade para viver confessando coisas que quer que se tornem verdades.
Para piorar mais ainda, o auto-referente pr. Renê Terranova, a quem atualmente Caio Fábio chama de Nabucoterranova, amplia o processo de divulgação e propagação dos erros e desvios na Visão. “Visão de Israel”, Prosperidade, anti-catolicismo (tudo é da Babilônia), Messianismo (“Deus me revelou”) e coisas sutis mas igualmente danosas. Obviamente que o pr. Renê teve muitos méritos, pelo rompante, pela dedicação, pelo amor e pelo zelo, e por ser uma pessoa terna e afável. Mas, como líder, de novo o problema doutrinário tornou-se seu calcanhar de Aquiles. Frases como “Os vencedores tem unção de conquista” são a tônica de quem só trabalha com positivismos a la Lauro Trevisan, e com simbolismos, usando o Velho Testamento de forma leviana, errada e totalmente alegórica. Daí faz jorrar a “visão” de Israel, reimplantando um judaísmo enrolado e misturado, que o torna, como “profeta”, um canal de confusão na Igreja. Isso sem falar na idéia exdrúxula de “tomar o Brasil” pela política, que facilmente atenta contra toda a Parousia e Escatologia, em qualquer corrente teológica. Eu mesmo o vi no MIR profetizar a eleição de dado candidato, o que não se concretizou.
Foi pela dupla Valnice-Renê que adentrou a questão de Israel, que hoje se propagou a ponto de trazer para dentro das Igrejas a ARCA DA ALIANÇA, e por último Igrejas Judaicas, com todos os ritos judaicos. No próprio site do MIR o Pr. René convoca discípulos para receberem o título de nobre se doarem para a construção do ‘seu’ templo a quantia de R$ 10 mil. Ou seja, as coisas saem do bom senso, mesmo! Só estou aguardando o dia que sai a unção de eunuco...
Isso, amados, nada tem a ver com o que vimos em Bogotá – eu vos asseguro. O que vemos no Brasil é a secular deficiência teológica tupiniquim, porta aberta para todo tipo de sincretismo evangelicalista. Recentemente ouvi um pregador, num surto de alucinação, afirmar que Deus batizou as galinhas com Espírito Santo e um galo interpretava! Irmãos, temo que tenham aberto a porta do manicômio e as doenças da espiritualidade popular tenham tomado conta do ‘terreiro’ evangélico.
A Igreja simples de Bogotá também fascina. O poder também fascina a estrutura-sem-estrutura. O Pr. César colocou a filha e o genro para pastores-presidentes em Bogotá. Resultado: Pr. René deixa a cobertura do pr. César. Divide-se a unidade. Começa a velha história, que atribuo ao princípio de Lutero: “não concordo, divido”. Em Bogotá ocorre que todos os discípulos diretos de César Castellanos também se vão. O mundo do G12 se divide, membros saem das igrejas, revoltados. Isso não é novo, porque nos movimentos denominacionais predomina a velha sina de ‘crescimento por divisão’.
Como disse Paulo, ‘que diremos pois a estas coisas?’
1) Os erros de liderança são os mais difíceis de tratar
a. É complicado um líder admitir que foi soberbo, presunçoso, arrogante ou autoritário
b. Somente estruturas preventivas, de prestação de contas, podem minimizar os danos da caminhada messiânica de um líder.
c. Sempre surgem líderes inéditos, que esquecem que Deus não está atrás de ineditismo, mas de cópias – cópias de Jesus
2) Fazer discípulos não é fácil, mas quase ninguém quer pagar o preço
a. Se César Castellanos tivesse feito discípulos não teria perdido seus 12, nem perdido Renê
b. Fazer discípulos sendo autoritário e aprisionando em manipulações é maligno e desumano, na medida em que violenta a expressividade plena e as escolhas voluntárias e responsáveis.
c. A fronteira entre discipular e controlar é mal conhecida porque quase ninguém tenta fazer discípulos de maneira séria.
3) Não existe ‘santo’ nessa briga fratricida entre cristãos
a. É ridículo imaginar que alguém seja melhor que outrem porque tem a doutrina certa. Aliás, o que é doutrina certa?..
b. Todos os que erram certamente estavam tentando seguir um caminho de restauração sério, mas normalmente descuidam do seu próprio perfil de líder-servo, se afastando das ovelhas e perdendo a referência da simplicidade
c. O ‘mercado cristão’ produz e incentiva líderes imediatistas, que, despreparados mas ambiciosos, não temem por tentar inventar a roda.
d. Nenhuma denominação pode usar o erro dos ‘outros’ para tentar se auto-afirmar, pois esse erro é presunção. “Tu que estás em pé, olhe, não caia”.
4) Os murmuradores de sempre triunfam quando alguém cai
a. Há pessoas que, por incrível que pareça, somente se alegram nos infortúnios alheios
b. Há pessoas que vaticinam “Eu sabia... eu não disse?”, como se ‘profetizar’ desgraça fosse um dos ministérios do Espírito Santo.
c. A única maneira de um murmurador “produzir” é quando aponta o erro dos outros. Assim ele consegue aplacar a culpa de não fazer nada, jogando a responsabilidade de sua incompetência nos outros.
5) Só satanás leva vantagem quando o povo quer achar o culpado, quem está errado
a. Jesus disse: “Eu também não te condeno”
b. O que está acontecendo já aconteceu antes, na História, e vai acontecer ainda, antes de estarmos para sempre com o Senhor
c. Nada mais danoso para atestar contra a Igreja que sua divisão
d. Nunca ninguém deterá toda a revelação, mas nós todos terminamos – se nos tolerarmos mutuamente – comportando enormes parcelas da graça de Deus, e manifestações genuínas do amor de Deus.
O quadro do G12 é grave, como é grave qualquer quadro denominacional existente. Sem citar nomes aqui, já se permite normalmente divórcio e re-casamento em lugares onde se pregou e agiu contra; já se tolera tacitamente a maçonaria no seio da liderança; já se abandona completamente a obra missionária e pastores denominacionais no campo; já se esquece da santidade pessoal, e o pastor sexualiza sua relação com as irmãs e cai com elas; as estruturas já transferem pastores caídos de um lugar pra outro sem restaurá-los; já são ‘café pequeno’ os tão comuns desvios financeiros. Até já se transforma, como diz Pedro, pessoas em negócio!?!? Mas isso já é outra baixaria, muito conhecida – claro.
Penso às vezes em não me expressar acerca dessas coisas que estão aí, mas a própria Bíblia é um livro de exposição de coisas erradas – não esconde nada. Muitas destas coisas são, na verdade, o joio. E Jesus disse que o joio se mantém junto com o trigo, até a consumação dos séculos. NENHUM DE NÓS TEM A CAPACIDADE DE DIZER O QUE SEJA JOIO, O QUE SEJA TRIGO – O Senhor o fará.
Sim, amados, o G12 é hoje no Brasil símbolo de um monte de desvios, que teve um lindo começo. E o que fica então? Bem, não tem clima de despedida: continuamos todos trabalhando sério para tirar lições de tudo isso, avançar na vida. Continuo trabalhando a partir do que vi em Bogotá, e também no início da Visão em Manaus. Continuo decidido mais que nunca a pagar o preço de fazer bons discípulos, e apresentá-los a Deus, em obediência ao maravilhoso mandato do Senhor. Dou e compartilho minha vida sem medo de ser traído (como já fui), mas procurando tirar lições dos meus erros, e desses que vemos no contexto hodierno. De nada tenho que reclamar da nossa experiência na Videira. O trabalho é grande, as mudanças idem, e estou feliz pela qualidade de vida dos discípulos.
Por último, estou feliz por não estar sujeito a pessoas ou sistemas que um dia iriam terminar mandando eu me circuncidar... gente que acha que pode fazer da Bíblia o que bem entende, que pode adentrar por um messianismo infantil e irresponsável. Desejo que cada um de nós, eu incluso (claro), sejamos humildes para entender que Deus não está nessa parte ruim da nossa história, mas na nossa fidelidade diante de tão conturbado contexto. Que Deus nos poupe de cairmos na sina do joio... conservemos a natureza de trigo – útil para, transformado, virar pão e alimentar o povo que tem fome de Deus!

fonte: Nils Alberto Bergsten

Na minha opinião o G12 é mais uma das tentativas humanas de emular os frutos genuínos do Espírito no ser. Mas o texto fala por si, nada mais a acrescentar.

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