É muito comum no Brasil – ou nos Brasis – vários tipos de benzedores, tiradores de mandingas, defumadores, ministros e obreiros de oração, e isto citando todas as vertentes religiosas, desde as de linhagem afro, xamânica, indígena, a do caboclo, até as evangéwiccas (sim, wiccas).
Há um mano muito querido (de cafés gregos, almoços no pé-pra-fora e chat’s da vida) que quando alguém pede alguma oração para ele, ele diz: — Vem cá! Você já orou por isto? Não?! Ore você e eu digo amém…
Caso me perguntem quanto tempo eu oro (de corpo, alma, mente e coração) por dia, acabo dizendo sobre o tempo, a previsão do tempo (chuvas esparsas no decorrer da tarde) ou respondo: — Oi? Hein? Hã?
Você já esteve morrendo de fome, sentou-se à mesa, aquele cheiro de feijão fresquinho, arroz (se for papa para mim é melhor), aqueles charutinhos de repolho, hummmm E de repente pedem para alguém orar, e o tiozinho, ops, quer dizer, o irmãozinho ora durante umas três horas?
Primeiro que a sua mente passeia por tudo que é lugar enquanto a sua boca repete alguns améns espasmódicos e a boca do estômago emite uns ruídos inexprimíveis, parece que há o demônio do exorcista possuindo o seu estômago, querendo matar, roubar e destruir qualquer coisa que lhe preencha as entranhas e acalme o tsunami de suco gástrico…
Quando você abre os olhos, a luz até incomoda em sua claridade; você olha para o charutinho de repolho e o bicho parece até uma taturana, já está peludo, penicilina pura, a comida se você arriscar vai dar “penamunia”, começa a espirrar na hora, de tão gelada que ficou. Diga-me, esta é a tal oração de poder?
Em uma das viagens missionárias que um saudoso grupo do qual eu participava fez, íamos para uma determinada cidade e pernoitávamos em casas, igrejas, fazendas; da mesma forma as refeições eram pela graça e misericórdia dos fartos de mantimentos e pobres de coração.
Em um desses almoços, fomos à casa de mano famoso na cidade, todos juravam – evangelicamente - de pés juntos que o amado e idolatrado cachorro do nosso anfitrião tinha morrido “certa vez” e que, após 3 dias ou 72 horas ou 3 noites, o doador de nosso rango sentiu no coração de orar pelo cachorro que já estava enterrado.Como o cachorro era da família já, cidade pequena sabe comé, todos sabiam que o cachorro tinha morrido e que o nosso mano evangéwicco (meio bruxo) estava triste.
Então, você acredita que o cara orou no túmulo e o cachorro ressuscitou!!!?O cara ficou meio chalalau depois disto, ia nos hospitais e achava que podia curar todo mundo, nunca funcionou; mas também ele nunca foi em hospital veterinário, talvez fosse este o ministério dele.
Ele contou para nós isto, já era umas 15h30 da tarde, a gente morrendo de fome e vendo o cachorro da raça Fênix (ressurgido das cinzas), esperava um cachorro meio da volta dos mortos-vivos, mas o bichinho era bonitinho.
A mulher tinha feito um leitão ma-ra-vi-lho-so, sentamos à mesa e, como todo bom crentchi tinha que orar antes de comer. Não é que o cara orou? Lá, o tal de ressuscitador de cachorros desencarnados, o inimigo número 1 dos veterinários.O cara orando e a gente morrendo de fome… E o medo de que o leitão começasse a se mexer, cuspisse a maçã na minha cara e começasse a falar que encontrou a avó dele, que o bacon estava amaldiçoado. Foi o pensamento coletivo, eu segurei os tecos de pernil com força, com garfo e faca, estava orando e pensando: — Se este filé de porco começar a se debater feito um rabo de peixe fora d’água, vou dar umas 13 facadas nele rsssss
Graças a Deus que não foi daquela vez, nada se mexeu, tampouco falamos amém no final rsss.
Mas, EU TENHO uma oração relacionada ao poder, mas é sobre o “meu não poder mais”.
Poderíamos teologizar, falar da evolução da intimidade permitida por Deus correlacionada e condicionada à evolução da revelação messiânica no Antigo Testamento como fator preponderante na eficácia da oração do monoteísmo judaico (ufa)!
Ainda prefiro falar sobre uma fórmula infalível da oração de poder, deste não poder mais…
Posso usar de técnicas, mas é o coração, a integridade, a sinceridade; e quando nada mais restar e quando faltar o saber de como orar, o próprio Espírito de Deus fará a nossa oração com gemidos que ninguém conseguiria escrever ou descrever, mostrando as dores de nossa alma, nossas feridas e cicatrizes, nossas dúvidas e certezas, conceitos e preconceitos.
A oração confessando que está doendo…
A oração quase que em um exercício de introspecção, sem muita expectativa de ser oração, questionando até quando será vigente a situação…
A conversa com a alma, que Stênio musicou: “Puxa uma cadeira, oh minh’alma”…, saber o porquê de estar abatida e abalada.
Há oração feita em canções, um canto que tenta levar o nosso pranto, que tenta lavar o nosso pranto… Mas não precisa ser canto de Camargos, de Joãos e Stênios; e nem precisa ser canção. Pode ser um cheiro do passado, uma saudade de um futuro quase que um certeza de concretização de um desejo; pode ser o silêncio do mundo, pois tudo que falam NADA nos diz.
Há a oração do silêncio, quando vem um vazio e uma incerteza quanto ao próximo respirar; as pregações, mensagens e livros ficam tão reais quanto o Mundo de OZ.
A oração da não-oração, tal como a contra-cultura de John Stott, é quando esta técnica de orar, vira quase um exercício de meditação zen; como se falássemos com o nosso eu-interior, mas é só isto, uma técnica.
Orações teológicas e influenciadas por livros, manuais e técnicas evangéwiccas de intercessão, mas são só isto, uma técnica.
Momentos de dor, momentos de alegria, momentos em que nos sentimos sós na multidão.
Momentos em que parece que tudo nos aperta e que algo ruim está para acontecer; uma sensação de desespero, confusão mental; o coração “bate na garganta”, até os ouvidos nos mostram o bumbo do coração.
Momentos em que as dores são inexplicáveis e parece que não estamos mais, uma letargia, uma vontade de sumir…
Mãos cansadas e castigadas pela luta com o próprio eu.
Mãos surradas e marcadas pela dor de combater bons e maus combates, sem nunca terminar a carreira ou guardar e cumprir todas as regras da fé que nos alimenta…
Mãos que lutaram contra o tempo, o tempo do homem e o tempo de DEUS.
Mãos que tentam se unir em sinal de prece, para que assim me lembre das mãos que se levantaram e acalmaram tempestades e mares, que se abriram e que foram marcadas por muitas circunstâncias, mãos marcadas pelo toque em leprosos, em hemorrágicos, cegos e leprosos; mãos que não queriam segurar cálices e, principalmente, mãos marcadas pelo cravos na cruz.
Eram os meus cravos, era a minha cruz, mas as mãos eram Dele…
Minha oração é que eu me lembre das mãos Dele já sem forças e sem sangue correndo em suas veias, por ter sido escorrido por mim, pois me vejo lá, e sinto o coração Dele batendo aqui, dentro em mim…
Oração de poder, de não poder mais!!!
Mas as mãos Dele estão sobre mim.
Senhor eu creio, ajuda a minha falta de fé…
Alexandre Melatto – Dinho
Caminho da Graça – Estação ABC
Nenhum comentário:
Postar um comentário