No que creio e tento viver.

Entendo que a verdadeira rendenção espiritual não tem entre os seus agraciados aquelas pessoas que posam de santas e moralmente irrepreensíveis, tampouco aquelas que investem a sua vida em defender a doutrina melhor fundamentada em escritos ancestrais... vejo que ela é alcançada pelo pecador arrependido que, por assim se reconhecer e ciente de sua limitação, ousa não mais negociar com Deus o Seu favor mediante seus esforços pessoais mas, em um passo de fé, acredita na bondade intrínseca de seu Ser e nos méritos do Cristo crucificado e ressurreto respondendo à essa fé com uma nova postura, voltada à Deus e ao próximo sem fanatismos, dando assim sabor à sua vida e a dos que estão à seu redor neste mundo. E tudo isso é possível exclusivamente pela Graça de Deus, fruto de Seu amor por nós.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Avivamento à Brasileira


Texto atual escrito há 16 anos atrás, denunciando as negociatas feitas em nome de Deus, onde os beneficiários diretos sempre sãos os "donos" da igreja.

Por Caio Fábio D´Araújo Filho

Avivamentos acontecem quando as pessoas ficam perplexas diante daquele que está sentado no Trono.

Saber isto não basta! Porque no Brasil, nós corremos o risco de dar um jeitinho até em Avivamento. Corremos o risco da criação de um "Avivamento à brasileira", ou seja, um Avivamento sem Trono, mas que a gente dá um jeito de ser "abençoadinho". Quero dizer que há sinais e evidências de Avivamento no Brasil, todavia, me preocupo com o fato de que há ainda muitos outros sinais de "Avivamentos à brasileira".

Basta comparar as visões carismáticas dos nossos Avivamentos com as visões carismáticas de Daniel, Ezequiel e Isaías.

Encontro irmãozinhos por aí que dizem: "Olha, hoje pela manhã tive uma visão do Trono de Deus e o Senhor me falou alguma coisa... O que foi mesmo? Já não estou me lembrando o que o Senhor falou".

Daniel dizia algo bastante diferente: "eu fiquei doente, eu vi o Trono e me desmontei todinho."

E mais: "fui cuidar dos negócios do Rei, mas fiquei dias apavorado com a visão".

"Avivamento à brasileira" é aquele Avivamento que tem muito legalismo, porém não conhece a Santidade. Nele se pode fazer o que não se deveria poder fazer; e não se pode fazer o que se deveria poder.

Este é o "Avivamento à brasileira": é cheio de emoção, entretanto, sem nenhuma conseqüência profunda de mudança de vida na existência daquele que se arrepia nos cultos.

Eu gosto de um arrepio, quem não gosta? Ninguém é de ferro, não é verdade? Aleluia! Oh, glória!

Só que a gente pergunta depois: "e o que aconteceu?" Então, dizem que o culto foi uma bênção, que houve cada arrepio... Digo: "Olha, se você tirar a camisa ali na esquina, no ventinho da tarde, também arrepia". Outros me dizem: "O culto foi uma bênção! Havia gente caindo para todo lado. Cada sopro!" A minha pergunta, no entanto, é: "Escute, esse que Caiu no Espírito aprendeu a Andar no Espírito daí em diante? Ele aprendeu a se tornar um ser humano melhor? Ou ele caiu no culto e, em casa, caiu de tapa na mulher? Dependendo das respostas a estas perguntas eu considero a experiência válida ou não.

Cair por cair não é comigo. Só vale a pena cair se pode levantar diferente!

"Avivamento à brasileira" é aquele que gosta de manipular o poder de Deus, mas que não aceita se submeter à Palavra do Deus de poder.

O perigo é o de cair desmaiado no Espírito, mas não cair consciente diante do Trono de Deus. Isto porque poder espiritual pode até derrubar você, mas só a Palavra ensina você a viver com verdadeira lucidez espiritual.

"Avivamento à brasileira" é aquele que vibra com milagres extraordinários, mas que não vibra com a mesma alegria com relação à prática da justiça e da verdade. Quer ver uma coisa?

Acontece comigo todos os dias, quando começo a pregar, e a dizer coisas que Deus faz. Digo: "Deus cura". O povo explode de alegria; "Ele liberta os endemoninhados", o povo pula até o teto; " Ele faz maravilhas na vida dos drogados e tira as prostitutas da prostituição", as pessoas quase babam de alegria. Então, eu digo assim: "Ele julga com justiça os iníquos da terra, e derruba de seus Tronos os governadores corruptos", o povo engole em seco e não diz nada, nem um amenzinho. Ora, "Ele bota o dedo na cara dos presidentes iníquos e os depõe". Ninguém grita aleluia nessa hora. Por que? A Bíblia porventura não diz a mesma coisa? O Deus que cura não é também o Deus da Justiça e da Verdade?

"Avivamento à brasileira" é aquele que celebra os números extraordinários dos que entram pela porta da frente da Igreja, mas que não vê a tragédia dos que estão saindo pela porta dos fundos (a porta dos fundos é mais larga do que a da frente).

Li, há algum tempo, aterrado, assustado, apavorado mesmo, uma estatística que mostra uma pesquisa feita em duas instituições: uma em São Paulo e outra no Rio de Janeiro que revela o fato de que os evangélicos são a parcela da sociedade brasileira que mais contribui com a delinqüência juvenil. 42% das crianças que estão em alguns centros da FEBEM são filhos de membros de igrejas evangélicas. E por que é assim? A razão é simples: nós estamos mais preocupados com a possibilidade de que as pessoas venham a se dizer evangélicas, do que com o fato delas viverem ou não de acordo com o evangelho.

"Avivamento à brasileira" é aquele que se contenta em ver pessoas aprendendo a pular para Jesus em nosso cultos, mas que não tem nenhum compromisso de ensinar às pessoas a viver para Jesus no dia-a-dia. Daí haver muito mais festa e pulação no nosso meio, hoje, do que ministração séria da Palavra de Deus.

Eu gosto de dar meus pulinhos, gosto muito de música alegre e de cultos arrebatantes. Entretanto, não se pode transformar tais coisas em mera estratégia para fazer a Igreja crescer, descuidando-se daquilo que é essencial: a pregação do arrependimento, da Cruz, da remissão dos pecados, da fidelidade a Deus e do compromisso com o estudo da sua Palavra.

"Avivamento à brasileira" é aquele que põe uma Bíblia nas mãos de cada crente, mas que não lhe infunde o conhecimento da Palavra de Deus no coração.

E atenção: quanto mais transformarmos a Palavra de Deus apenas em um Livro, menos nós a teremos no coração. O Livro a gente carrega em algum lugar fora do corpo, a Palavra a gente só carrega no coração. "Avivamento à brasileira" é aquele que fala da derrubada dos ídolos pagãos da sociedade, mas que é inoperante quanto às curvas do ego autoglorificado dos líderes da Igreja ao Senhor dos Senhores.

"Avivamento à brasileira" é aquele que coa os mosquitos das mais legítimas alegrias humanas, e engole os camelos das mais nojentas disputas de poder, manipulação das consciências e da falta de padrões mínimos de ética cotidiana.

"Avivamento à brasileira" é aquele que ensina que qualquer negócio é válido, desde que o resultado seja a pregação do evangelho.

Conversando com um Deputado Federal em Brasília ele me dizia o seguinte: "Olha, eu tive uma surpresa, Pastor. Fui almoçar com um figurão em Brasília, e o senhor não sabe quem chegou lá, num helicóptero: o Presidente da República (aquele do Impeachment). Em conversa com o Presidente, ele me propôs: "Olha, se você fizer um lobby para mim aí, o que você precisar é seu."

"Eu sou crente, e preciso muito de umas rádios pra pregar o evangelho no país inteiro." respondi.

"O que você precisar é seu," ofereceu o Presidente.
"Eu vou votar a favor dele pra poder arranjar umas rádios para pregar o evangelho. O que o irmão acha?" perguntou o deputado.

"Já vi essa oferta antes." eu lhe disse.

"Onde?" perguntou curioso.

Lembrei-lhe que no deserto da Judéia, um grande monarca disse: "tudo isto te darei se prostrado me adorares". "Avivamento à brasileira" é aquele que dá a palavra a autoridades corruptas, mas que nega honra e voz aos santos e simples, mesmo que raros, que ainda existem em nosso meio.

"Avivamento à brasileira" é aquele que vem para roubar (o dinheiro do pobre), matar (a alegria das almas mediante o legalismo) e destruir (as emoções humanas mediante à culpa), ao invés de ser para que tenham vida em abundância.

"Avivamento à brasileira" é aquele no qual se grita muito, mas não se chora nada; se canta muito, mas se louva pouco; se ajoelha com muita facilidade, mas se submete a Deus com extrema dificuldade; se prega com muita freqüência contra o pecado, embora o pratique com muita tranqüilidade e cinismo.

"Avivamento à brasileira" é aquele que ensina os cristãos a celebrar a sua abençoada prosperidade material com voracidade, ironia e impiedade em relação à miséria do resto da sociedade, sem compaixão alguma por ela.

"Avivamento à brasileira" é aquele que é praticado por líderes evangélicos que proíbem os cristãos, em nome da fé, de fazer escolhas politicamente lúcidas na história, circunscrevendo toda a importância da Batalha Humana às regiões invisíveis, enquanto eles mesmos, muitas vezes, fazem cabalas políticas aéticas, a fim de se favorecerem pessoalmente da alienação do povo nas instâncias mais concretas da história.

"Avivamento à brasileira" é o que está fazendo a Igreja no Brasil crescer muito, mas sem mudar nada no país. Esse é o Avivamento que tem que se converter em verdadeiro Avivamento, caso contrário, ele será a nossa maior catástrofe em, no máximo, 20 anos.

Preste atenção: se o "Avivamento à brasileira" prevalecer, possivelmente, teremos um país de maioria evangélica, mas cujas expressões de vida serão absolutamente parecidas com as dos períodos da história da cristandade na Europa, onde se tinha um rei cristão, uma corte cristã, um oficialato cristão, um povo cristão, ao mesmo tempo que tinham as mais perversas formas de exploração do próximo, as mais estranhas aberrações religiosas e as mais desavergonhadas associações entre a Igreja e o poder. E ainda, onde se tentava colocar Deus a serviço dos interesses megalômanos dos exploradores da fé. Onde a fé que salvava do paganismo circundante era um inferno que tornava a vida desses "salvos" uma desgraça de existência enferma e sem dignidade.

Fonte: Extraído do livro Avivamento Total, 1992

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